COVID-19: Gestantes e puérperas passam a integrar grupo de risco e docentes da Católica dão dicas de prevenção

17/04/2020 - 9:00 - UCDB

Fonte: Natalie Malulei

Eliny Salazar e Márcia Rotta, professoras da UCDB que integram o projeto Bem Gestar (Foto: Marco Miatelo | Diário Digital)

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Gestantes e mães de recém-nascidos com até 45 dias de vida, chamadas de puérperas, foram incluídas, neste mês, pelo Ministério da Saúde, no grupo de risco para a Covid-19. Por meio de nota, o órgão informou que a decisão foi baseada em estudos e conhecimentos já consolidados sobre a atividade de outros tipos de coronavírus e do vírus da gripe e destacou que essas mulheres são mais suscetíveis a infecções em geral.  

Mas porque isso acontece e de que maneira é possível prevenir a doença? Quem responde essas questões são as professoras da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) Márcia Rotta, profissional de Educação Física e Fisioterapeuta, e Eliny Salazar, enfermeira com especialização em Enfermagem Pediátrica e Hematologia. As docentes integram o projeto de extensão Bem Gestar que presta atendimento gratuito à gestantes e puérperas. De acordo com elas, as mulheres grávidas e as que tiveram bebês recentemente têm uma condição de imunossupressão, por isso se tornam grupo de risco.

“Durante a gestação, o corpo da mulher abaixa as defesas para que não tenha rejeição ao feto, porém isso a deixa propensa a inúmeras infecções e mais suscetível ao vírus. O risco de agravamento maior de doenças, como no caso da influenza, que já conhecemos bem, existe porque ela tem baixa imunidade proporcionada pelo pico de progesterona que é característico da gravidez. Já as puérperas, por conta do processo de recuperação do corpo em relação ao parto e o aleitamento materno, elas também têm uma imunossupressão, principalmente nos primeiros quinze dias após dar à luz, depois o quadro começa a melhorar”, explicaram as docentes.

Diante desse cenário, a prevenção para evitar o contágio do novo coronavírus se faz, cada vez mais, necessária por parte desse público e o isolamento social é a principal recomendação. Mesmo em casa, hábitos de higiene, como lavar as mãos frequentemente, devem ser mantidos. Outra atenção está relacionada com o pai ou com outras pessoas que possam viver no mesmo ambiente: se for necessário sair da residência é imprescindível o uso de máscara e, além disso, procedimentos devem ser adotados ao retornar. “É importante que ao chegar em casa, a pessoa tire a máscara, higienize com álcool 70% os objetos que forem trazidos, tire a roupa, os sapatos e tome um banho, para aí, então, ter contato com a mãe e com o bebê”, orientaram as professoras.  

Eliny e Márcia também ressaltam que há cuidados diferentes recomendados para cada público –  alguns devem ser adotados pelas mamães que estão à espera da chegada do bebê e outros por aquelas que já carregam o filho nos braços.

Gestantes

No caso das gestantes é necessário enfatizar que ainda não é confirmada se existe a transmissão vertical, via placenta, do novo coronavírus, ou seja, se a mãe contrair a doença, não há a certeza de que a criança pode ser infectada, existem apenas hipóteses de que isso seja possível.

“O Ministério da Saúde diz que não sabe ainda se existe a possibilidade e que esta questão será observada, porém artigos científicos mostram que algumas crianças nasceram com a Covid-19 e, após os exames, foi confirmado que as mães tinham o vírus, mas não apresentaram sintomas. Não foram feitos testes in vitro ou in vivo que podem afirmar que existe a transmissão vertical realmente, ou se a criança foi infectada ao ter contato com a mãe depois do nascimento. Contudo, pelas características do novo coronavírus, ele deve conseguir passar pela barreira hematoplacentária, então, acredito que essa hipótese pode se confirmar”, ressaltou Eliny.

Mesmo diante da não confirmação, as professoras enfatizam que as recomendações devem ser seguidas pelas gestantes: é preciso permanecer em quarentena e, nesse período, manter uma alimentação saudável, além de continuar a preparação para o parto com exercícios moderados.

“É importante manter uma rotina de atividades físicas para que ela não se sinta desmotivada. Movimentar o corpo melhora a produção de serotonina e deixa a gestante mais animada e flexível, além de diminuir os desconfortos da gravidez. Vale lembrar que é necessário ter orientação de um profissional de Educação Física ou Fisioterapeuta e, caso a mulher já tenha o hábito de fazer exercícios, que continue a executar aqueles que já está acostumada”, pontuaram as professoras.

Vale enfatizar também que as atividades físicas devem ser feitas dentro de casa, exercícios em parques e ruas não são recomendados: “Não orientamos as caminhadas externas neste momento, pois estamos com o tempo muito seco e temos uma carga viral bem grande no ambiente. Embora o vírus não voe, ele pode permanecer suspenso no ar em partículas líquidas (aerossol) e quando a pessoa passa por ele, existe a possibilidade de contaminação”.

Puérperas

No caso das puérperas, é importante que tanto a mulher quanto a criança não saiam de casa, já que da mesma maneira que a imunidade da mãe está baixa pelo fato de o corpo ainda estar em período de recuperação, o recém-nascido não tem imunidade nenhuma e, portanto, é ainda mais frágil. De acordo com as professoras, a mãe deve lavar com frequência as mãos e o rosto antes de tocar no bebê e evitar ficar exposta em locais com muito vento que venha da rua.

A amamentação também é um ponto importante que merece atenção. Segundo Márcia e Eliny, se a mãe não apresentar nenhum sintoma relacionado à Covid-19 e nem ter tido contato com alguém diagnosticado com a doença, o aleitamento materno deve seguir normalmente. Caso contrário, de acordo com as docentes, a orientação é procurar um médico: “Não sabemos se a transmissão do vírus acontece por meio do leite materno. Por isso, orientamos que mulher procure primeiro um especialista e, enquanto não for descartada a possibilidade de ela estar com a doença, que a mãe utilize máscara para manusear o bebê, lave sempre as mãos e evite a amamentação”.

O que fazer se apresentar sintomas da Covid-19?

Tosse, febre, cansaço e dificuldade para respirar são os sintomas mais comuns provocados pela Covid-19. Ao identificá-los e tiverem com a suspeita de estarem contaminadas com o novo coronavírus, a orientação é que gestantes e puérperas procurem imediatamente uma Unidade de Pronto Atendimento ou um hospital de referência. Em Campo Grande, o Hospital Regional é o mais indicado.

“O primeiro cuidado que elas devem ter é avaliar o quadro e não deixar as coisas piorarem, por exemplo – ‘eu tenho febre há mais de dois dias, sinto dor de garganta, meu ouvido dói’. Apesar de dois desses sintomas não serem específicos da Covid-19, geralmente, o vírus vem acompanhado de uma infecção bacteriana, então quadros assim, merecem atenção e a mulher não deve esperar para procurar assistência médica”, orientaram as docentes.

Márcia e Eliny também reforçam que a mulher não deve se automedicar: “Não pode ser feito o uso da cloroquina, que é um medicamento já utilizado para combater o vírus. Este remédio é imunomodulador e, geralmente, utilizado em pacientes que tem doenças alto imunes ou diagnosticados com malária. No caso das gestantes, o grande perigo é que ele pode causar má formação fetal, além de provocar o aumento da pressão arterial da mãe e causar lesões cardíacas, renais e oculares. Em mulheres que já tiveram o bebê, os efeitos colaterais podem ser os mesmos”, esclareceram as professoras.