Pastoral Universitária

Edith Stein (Filósofa e mártir)

Edith Stein (Filósofa e mártir)

09, agosto

Edith Stein (Filósofa e mártir.)

Edith Stein como é mundialmente conhecida, ou Santa Teresa Benedita da Cruz, carmelita descalça, foi sem dúvida uma das mulheres mais importantes do séc. XX. Conquistou seu lugar no mundo profano com sua competência filosófica, e no mundo da Igreja com sua santidade. Sua vida foi marcada por uma busca constante: busca da identidade própria, busca da dignidade humana, busca do sentido deste mundo, busca da verdade do ser, busca da fé, busca de Deus. Experimentou a força da religião judaica participando dos ritos junto com sua mãe, e sentia-se profundamente feliz. Mas bem cedo foi surgindo dentro dela a inquietação da juventude e, voluntariamente, quis percorrer o caminho da descrença e do ateísmo.

Judia
Nasceu de uma família judaica, em 12 de outubro de 1891, em Breslau, Alemanha (hoje Wroclaw, Polônia). Era festa do “Yom Kippur”, dia da expiação, de marcante significado para os judeus. Última dos 7 filhos, seus pais eram israelitas ortodoxos. Não havia completado 2 anos quando perde seu pai, Siegfried. A mãe, Augusta, mulher de qualidades excepcionais, tomou a frente dos negócios e da família. Por ser a caçula, foi sempre coberta de carinhos por seus irmãos. Sua infância e adolescência foram plenas de alegria. Em tudo ela se destacava por vivacidade, inteligência e simpatia. Nos primeiros anos, Edith assumiu totalmente a fé hebraica. De família rigorosa e observante, freqüentava com a mãe a sinagoga, meditava a Palavra de Deus, e seguia com fidelidade os ritos hebreus. Assumiu a identidade judia. Mas o caráter pensativo e independente levou a pequena Edith a distanciar-se das práticas religiosas. Em seus questionamentos e buscas, aos 11 anos de idade abandona a fé judaica. Deixa de encontrar sua alegria na liturgia e nas orações. “Perdi conscientemente o costume de rezar e por própria decisão”. Embora tenha abandonado a prática da religião hebraica, nunca renunciou suas raízes. Sempre sentiu na alma e nas veias amor apaixonado por seu povo. O fato de ser judia lhe fez amar e compreender ainda melhor a pessoa de Jesus de Nazaré.

Filósofa
“Quando se bate na pedra, brota sempre uma fonte de sabedoria”, assim disse o diretor da escola onde Edith cursara o 2º grau ao cumprimentá-la por ocasião da festa de sua formatura. Ele fez um trocadilho com seu sobrenome Stein, que quer dizer pedra, e ao mesmo tempo confirmou a sua grande inteligência. De fato, ela superou todas as alunas pela profundidade de seus conhecimentos, sem deixar de lado sua humilde modéstia, qualidade rara num judeu. Preparava-se para a universidade, o que não era comum para uma muher naquela época, e já era bastante preocupada com a questão social e com a posição da mulher, que não tinha nem direito a voto. Era feminista convicta e, no prório grupo de amigos, lutava pela igualdade de direitos entre homem e mulher. A mãe que acompanhava cada passo da filha, percebia, no entanto, que a religião da infância desaparecera e que a jovem passava por uma grande crise de fé. Cansada de procurar respostas e não as encontrar Edith decide procurar as respostas no próprio homem, na Filosofia. “Estamos no mundo para servir a humanidade”. Cursou Filosofia na Universidade de Breslau, por 2 anos, sendo a única mulher da classe. Em 1913 transfere-se para a Universidade de Göttingen, atraída pela Escola da Fenomenologia, que tinha em Husserl seu maior expoente. Em pouco tempo se torna sua grande amiga e assistente. Aos poucos, Edith começou a perceber algo que a surpreendeu: todos aqueles grandes estudiosos, em sua maioria judeus como ela, eram convertidos ao cristianismo. Max Scheler era católico, e despertou nela uma abertura para o mundo da fé.

Cristã
Estoura a Primeira Guerra Mundial, e Edith que estava imersa em seus estudos filosóficos percebe que não podia ser feliz sozinha, qua a sorte de seus irmãos também era a sua. Em 1915 trabalha como enfermeira da Cruz Vermelha e é tão dedicada que recebe uma medalha de honra ao mérito. O encontro com o sofrimento, a busca da Verdade, o sentido profundo de humanidade e bondade presentes em seu coração abrem lentamente a porta para a fé cristã. A guerra fez uma vítima queridíssima à ela, um amigo filósofo, cuja esposa também sua grande amiga convida-a para organizar para publicação os escritos do marido. Ao encontrar a viúva, surpreende-se ao vê-la serena e tranqüila ante o drama da morte. A mulher era uma cristã autêntica que enfrentava a dor com toda a sua fé. De seu rosto abatido pelo sofrimento emanava uma luz misteriosa. Edith ficou profundamente impressionada: compreedeu o valor da cruz. “Foi o meu primeiro encontro com a cruz, minha primeira experiência da força divina que da cruz emana e se comunica aos que abraçam…pude contemplar a Igreja nascida da paixão salvífica de Cristo…Foi o momento em que a minha incredulidade caiu; empalideceu o hebraísmo e Cristo se elevou radiante diante de mim, Cristo no mistério de sua cruz”. A experiência fundamental para a sua conversão ao catolicismo foi a leitura da autobiografia de Santa Teresa d’Ávila, lida de um só fôlego, numa noite insone. Ao final da leitura disse a si mesma: “Eis a Verdade”. Na Doutora mística ela encontrara as respostas que há muito tempo buscava e que a filosofia não havia lhe dado. A Verdade era a presença de Deus e ao descobri-la, Edith sentia em si o desejo de entregar-se inteiramente a Ele. Foi batizada em 1 de janeiro de 1922, e na noite do mesmo dia recebeu a Eucaristia. Chamava-se agora Teresa Edwiges, Teresa em homenagem à santa responsável pela sua conversão, e Edwigwes, por ela ser sua madrinha e aquela que lhe oferecera a biblioteca onde encontrara o livro.

Carmelita
No cristianismo Edith compreendeu melhor o judaísmo e tudo ganhou novo sentido. Convertendo-se, não renunciou a ser judia, quis sê-lo plenamente. Pena que naõ podia compartilhar o que experimentava com os familiares. Uma das irmãs Rosa, no entanto, começou a compreendê-la e ajudá-la. Desde o primeiro momento da conversão ela sonhou com o Carmelo. Mas os sacerdotes a aconselharam a ficar no mundo para prosseguir, agora como católica, a missão de conferencista e formadora. Até sua entrada no Carmelo ela foi um grande auxílio para a filosofia católica. Procurou aprofundar-se na fé e no conhecimento dos grandes filósofos cristãos, especialmente Santo Tomás de Aquino, do qual fez uma bela tradução alemã. Com o fortalecimento do nazismo, em 1933 foi decretada uma medida que excluía os não-arianos de todos os empregos públicos. Encerrou assim uma carreira docente brilhante para encontrar-se com seu amado: Cristo Jesus. Deus a atrai ao Carmelo, e aos 42 anos chega o momento de oferecer-se inteiramente a Ele. Ao pedir para entrar no Carmelo de Colônia disse: “Não é a atividade humana que nos salva, mas somente a Paixão de Cristo. Participar dela é a minha única aspiração”. No dia 15 de abril de 1934, Edith recebe o hábito religioso e o novo nome, que ela mesma escolhera, como que a resumir sua espiritualidade: Teresa como a grande Reformadora que lhe indicara a Verdade e a introduzira na Igreja; Benedita, numa homenagem ao fundador dos beneditinos, de quem aprendera o amor àliturgia; da Cruz, que seria para sempre seu sinal característico como que a prenunciar seu holocausto. Sua mãe falece no dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz, quando Edith renovava pela primeira vez os votos religiosos. No Natal deste mesmo ano, 1936, sua irmã Rosa recebe o sacramento do Batismo, usando como veste branca a capa da irmã carmelita. Fez também a primeira comunhão.

Mártir
O cerco do nazismo cada vez mais se apertava. O coração carmelita de Edith sofria por seu povo. Tinha notícias contínuas das perseguições terríveis contra os hebreus. Aos poucos toda a sua família se separara: alguns refugiaram-se na própria Europa, outros nos Estados Unidos, um irmão já estava na Colômbia. Irmã Teresa Benedita previa, com perfeita lucidez, a sorte que a aguardava e não se iludia. Faz os votos perpétuos em 21 de abril de 1938. Ao Carmelo de Colônia começam a chegar notícias preocupantes. A carmelita judia já não podia publicar seus escritos, nem nas revistas católicas. A polícia alemã sabia que naquele convento estava uma famosa judia. Ela teme pela segurança de suas irmãs, pois todas poderiam sofrer represálias por conviverem com uma não-ariana. Pensa-se urgentemente numa trasferência. Em 31 de dezembro de 1938 chega ao carmelo de Echt, na Holanda. Em Março de 1939, Irmã Teresa pede à Madre Superiora para se oferecer como vítima de expiação. Ela faz um ato de oferta da própria vida para a conversão dos judeus. Em 1941 dá início ao livro Ciência da Cruz, escrito em comemoração ao IV Centenário de nascimento de São João da Cruz. Esta obra ficou inacabada, mas é considerado o fruto mais maduro de sua personalidade. É do silêncio e da solidão do Carmelo que, no dia 2 de agosto de 1942, ela e sua irmã Rosa são arrancadas, para iniciar uma viagem sem retorno. Foi a “força que emana da cruz” que lhe deu a coragem de dar a vida pelo seu povo numa câmara de gás, no campo de concentração de Auschwitz, aos 9 de agosto de 1942. Edith Stein é a primeira testemunha de Israel que uniu os sofrimentos de seu povo com a imolação de Cristo. Em 1 de maio de 1987 é beatificada pelo papa João Paulo II, que diz: “Uma grande filha do povo hebreu e uma grande carmelita, entre milhões de irmãos inocentes martirizados. Não fugiu diante da cruz, mas abraçou-a com esperança”. Foi canonizada em 11 de outubro de 1998, e sua festa é celebrada dia 9 de agosto. Com Santa Teresa Benedita da Cruz aprendemos a nunca nos omitir em nada, a não nos importar que as nossas idéias ou posições sejam acolhiodas ou rejeitadas, o que importa é a busca da verdade na intimidade da nossa consciência. Que Edith Stein, que tem tudo para ser Doutora da Igreja, possa, com sua firmeza e intuição teológica sobre os sofrimentos e sobre a mulher, iluminar a tantos que andam buscando a verdade mas não encontram o caminho certo.

“Ser filho de Deus significa: caminhar sempre pela mão de Deus, fazer Sua vontade e não a própria, pôr todas as nossas esperanças e preocupações nas mãos de Deus e confiar a Ele também o nosso futuro.
Nestas bases descansam a liberdade e a alegria de ser filhos de Deus”

 

Edith Stein (Filósofa e mártir.)

Fonte: www.bispado.org.br