Evangelho do dia: Jesus não veio abolir a Lei, mas cumpri-la

19/01/2010 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pró-Reitoria de Pastoral

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Quem já assistiu a uma partida de futebol bem jogada é capaz de distinguir a qualidade de cada um dos jogadores, principalmente dos atacantes e dos zagueiros. Um bom zagueiro dificilmente deixa que o atacante entre na área. Ele sabe cortar o drible, disputar cada espaço no qual a bola rola, a ponto de o atacante ter que mudar as próprias estratégias. Ele passa a jogar mais em equipe, ficando o mínimo de tempo com a bola nos pés. Quando menos espera, pode achar o espaço que antes lhe estava fechado e marcar o gol. É lógico que alguns defensores usam de artimanhas desonestas para evitar o gol. Para alguns, é mais fácil passar a bola do que o jogador.

Os evangelhos de hoje e de amanhã falam das disputas entre Jesus e os fariseus sobre a questão do sábado. Jesus é um atacante atacado, se formos usar o linguajar do futebol. Ele é caçado onde quer que esteja por pessoas maldosas que não querem deixar que cumpra a missão que lhe foi confiada pelo Pai. E seus adversários usam de uma arma muito convencional, que se chama tradição. Querem atingi-lo na sua essência judaica, para não deixar que Ele apresente a novidade do Reino de Deus.

O evangelho de hoje é tirado de Marcos 2,23-38. Nele, Jesus se coloca diante de pessoas que pensam e agem diferentemente dele e dos seus discípulos. Seus adversários são fanáticos pela tradição. Possuem um zelo religioso obsessivo que pode levar a extremos de intolerância. Em tudo o que fazem, sentem-se como que inspirados por algo divino. No seu zelo excessivo, tornam-se intolerantes em matéria principalmente religiosa. Quem não os segue, logo deve ser eliminado.

Marcos fala que Jesus e seus discípulos estavam passando por uma plantação de trigo em dia de sábado. Os discípulos começaram a colher as espigas. Ao verem isso, os fariseus logo falaram para Jesus: “Olha! Por que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido?”

Diante desse questionamento, Jesus não se conteve e relembrou-lhes as Escrituras: “Por acaso, nunca lestes o que Davi e seus companheiros fizeram quando passaram necessidade e tiveram fome? Como ele entrou na casa de Deus, no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote, comeu os pães oferecidos a Deus, e os deu também aos seus companheiros? No entanto, só aos sacerdotes é permitido comer esses pães”. E acrescentou: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. Portanto, o Filho do Homem é senhor também do sábado”.

Um olhar superficial sobre o evangelho de Marcos parece indicar que Jesus rejeita as antigas tradições de Israel. No entanto, quem lê os evangelhos sabe que não foi assim. Ele disse certa vez: “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para cumprir. –[...] Quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar os outros, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus” (Mt 5,17-19).

Então, por que Jesus reage com tanta severidade diante das palavras dos fariseus e dos chefes religiosos de Israel? Porque eles aboliram os Mandamentos dados por Deus colocando em seu lugar mandamentos criados por eles mesmos, com a finalidade de criar um sistema religioso que, ao invés de libertar, oprimia, excluía de maneira desumana. Ao fazerem isso, eles mantinham o povo com rédeas curtas.

Hoje, quando olhamos para a história da Igreja, é fácil criticar os tribunais da Inquisição ou certas ações em defesa de princípios maiores de interesse eclesial. Mas a pior inquisição foi vivida na época de Jesus. Se alguém estivesse com fome, não podia colher no dia de sábado; se um pobre adoecia, ao invés de ter assistência médica, era mais fácil dizer que Deus se lhe havia retirado a graça. Para recuperá-la, era necessário o pagamento de uma série de proventos ao Templo, que ficavam para os sacerdotes, como prova da cura. Portanto, a indulgência nasceu bem antes do cristianismo.

Quando Jesus se apresenta com uma maneira nova de tratar as pessoas, o sistema religioso judaico começa a ruir. Realizar determinados trabalhos em dia de sábado, por exemplo, poderia trazer a maldição para as pessoas. Jesus, no entanto, não proíbe os seus discípulos de colher o trigo. E, por incrível que pareça, nenhuma desgraça caiu sobre eles. O povo que assistia às disputas entre Jesus e os fariseus pode, então, perceber que havia algo de errado no ensinamento que vinha recebendo até aquele momento. A maldição e a desgraça não vinham de Deus, mas do próprio sistema que escravizava e não deixava que o Reino de Deus se implantasse mediante as ações de Jesus.

Jesus pode mostrar não somente aos fariseus, mas também ao povo, que algo novo estava acontecendo. Os marginalizados recuperavam a sua dignidade, os leprosos eram purificados, os cegos recuperavam as vistas, os surdos passavam a ouvir, e assim por diante.

Essa novidade perturbava os fariseus, que ficavam na defensiva. Qualquer atitude de Jesus devia ser criticada, para desacreditá-lo. Não podiam passar nem Ele nem a sua mensagem.

Mas Jesus saia liso e lesto das faltas que eles procuravam fazer. Com suas atitudes, Ele passava pelos seus zagueiros e marcava sempre os gols da salvação, em vista da garantia da vida plena ao povo oprimido.

Ele não fazia outra coisa que cumprir a vontade do Pai de dar vida em abundância ao seu povo.

E Ele continua, ainda hoje, abrindo caminho para a liberdade e não para o cárcere do fanatismo, apesar das críticas, das difamações e das ameaças de tantos fariseus dos dias de hoje que insistem em manter-se no poder explorando e oprimindo os humildes. Tudo o que Ele quer é que nós conheçamos a verdade que liberta, que é Ele mesmo (Jo 8,32). Com isso, Ele nos ensina a praticar a religião com bom senso, criticando toda e qualquer tradição religiosa, política ou social que se chocam com o direito à vida.

 

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