Artigo: Qualquer gesto de amor nos aproxima de Deus

13/06/2010 - 0:00 - UCDB

Fonte: Pe. Pedro Pereira Borges

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Um momento explosivo do evangelho deste 11º. Domingo do Tempo Comum, de Lucas 7,36-8,3, que rompe convenções e papéis, que coloca de maneira “prepotente” o amor no centro de tudo, é quando uma mulher entra na casa de Simão e se aproxima de Jesus, que está ali para uma refeição. Naquele momento, o amor se personifica numa mulher. A partir daí, o evangelho nos provoca, contesta-nos e nos encoraja. Quem contempla a cena, percebe que a fé não é um emaranhado complicado de dogmas e deveres e passa a entender que Jesus se refere apenas ao coração: ama, e basta!

Eis que a mulher entra na casa de Simão com um vaso de perfume. Não com a quantidade suficiente— para dar aos pobres —, não com as mãos vazias, não com um discurso cheio de belas palavras. Vem com aquilo que tem, com aquilo que expressa amor, mais do que arrependimento. Algo para o corpo de Jesus, somente para o corpo, mas que fala de amor.

Lava os pés de Jesus com as lágrimas, enxuga-os com os cabelos, perfuma-os, beija-os. São gestos imprevistos, novos, além da lei, além do legal e do ilegal, além dos deveres e das obrigações, com uma carga afetiva fora dos padrões normais. Jesus não recusa nada do que a mulher faz. Ela poderia, como tantos outros, pedir perdão. Mas por que esses gestos excessivos, o perfume, as carícias e os beijos? Na Lei antiga, Deus havia pedido que fosse feito no Templo um altar para os perfumes; no Cântico dos Cânticos o perfume prolonga a presença do amado, quando este deixa o quarto; as carícias e os beijos são a língua universal que fala daquilo que está no coração. Cada gesto de amor é sempre algo que é decretado pelo céu.

Jesus se alegra com o surgimento do amor, vêa mulher sair da contabilidade do dar e do ter. Ela não é alguém que comprou fiado e que agora veio pagar na frente de Simão, para mostrar para todos que recuperou o seu crédito na sociedade. Ela simboliza a criatividade do amor que vence os cálculos humanos, supera a falta de perdão e vence a tristeza. O encontro dessa mulher com Jesus nos ensina que cada gesto humano realizado com o coração nos aproxima do absoluto que é Deus.

Jesus olha além das etiquetas. Para Ele, chega uma mulher. Os outros veem nela uma pecadora. Ele, no entanto, vê alguém que ama: aliás, alguém que muito amou. O amor vale mais do que o pecado. A atitude de Jesus nos coloca diante de nossa identidade de cristãos.

O erro que você cometeu não revoga o bem realizado nem o anula. É o bem que revoga o mal de ontem e o apaga para sempre. Uma espiga vale mais do que toda a erva daninha que se espalha por uma plantação. Este Deus que ama o perfume e as carícias nos ensina que ainda devemos nos comover. Ele não é o grande contabilista do universo, mas é oferta de luz solar, possibilidade de vida profunda, alegre, perfumada, de onde saem as fontes da alegria, do canto, da amizade.

Um sógesto de amor, mesmo que mudo e sem eco, émais importante para o mundo do que a ação mais clamorosa, mais do que uma das sete maravilhas do mundo. Essa é a revolução total de Jesus, possível a todos, possível todos os dias!

Fonte: qumran2.net