Artigo: Deu Zika

09/12/2015 - 11:00 - UCDB

Fonte: Octávio Luiz Franco

Veja as últimas notícias da UCDB para você que está interessado em UCDB

Professor Dr. Octávio Luiz Franco, coordenador do S-Inova Biotech, Professor do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da UCDB

 

Entre a eterna problemática da dengue e a novidade nos últimos anos do chikungunya, agora temos em terras brasileiras um novo vírus, conhecido como vírus Zika ou em inglês ZIKV. A doença Zika pode ser causada por um vírus dispersado por mosquitos. Descoberto nas florestas africanas de Zika, desde 2007, este vírus tem sido observado e muito bem documentado em muitas regiões como a África tropical e o Sudeste asiático. Além dessas regiões, algumas ilhas do Pacífico também têm tido a experiência de altos níveis de infecção nos chamados outbreaks. Entretanto somente agora, em 2015, esta doença viral chegou por aqui na América do Sul. 

De acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde, um quarto das pessoas que contraem o vírus não apresenta nenhuma sintomatologia. No restante, os sintomas se assemelham aos sintomas observados na dengue como uma baixa e persistente febre, dores no corpo, tontura e outros. Geralmente, estes sintomas aparecem em até doze dias após a infecção podendo durar até duas semanas.

Entretanto, um problema grave também foi associado ao vírus da Zika, sendo este conhecido como microcefalia. Esta anomalia consiste em uma redução do crescimento cerebral do feto durante a gestação podendo ser diagnosticada durante o procedimento pré-natal ou imediatamente após o nascimento, quando o perímetro do crânio do infante não pode ter menos que 34 centímetros. Na maioria dos casos, a microcefalia pode causar retardo no desenvolvimento mental, distúrbios neurológicos como epilepsia e claras dificuldades para enxergar e ouvir. A conexão entre o vírus Zika e a microcefalia foi detectada após um claro aumento no número de infantes nascidos com má formação em Pernambuco, totalizando 646 registros.

Esta correlação se tornou ainda mais evidente quando exames demonstraram a presença do vírus no líquido amniótico de mulheres que tiveram seus bebês portando microcefalia. No Brasil, até o início de dezembro de 2015, foram registrados 1.248 casos de microcefalia em 14 estados. No Mato Grosso do Sul observamos até o momento um único caso. Infelizmente, ainda não existe profilaxia, tratamento ou vacina para controle do vírus da Zika. Portanto, a única coisa que podemos fazer no momento consiste em adotarmos medidas preventivas contra o mosquito que incluem evitar o acúmulo de água parada e a utilização de inseticidas e repelentes.

Desta forma, mais uma vez, nos encontramos a mercê de outra doença infecciosa. Obviamente não é culpa de ninguém que estas danosas doenças apareçam constantemente pois assim funciona a co-evolução entre humanos e patógenos. Entretanto é aviltante que nos últimos 20 anos não tenhamos conseguido controlar a população de Aedes aegypti em nosso país. Todo este problema pode ser facilmente minimizado com medidas que nem de longe podem ser consideradas extremamente drásticas, incluindo um simples aumento de limpeza e higiene associado à redução de containeres com água parada. Embora possamos mais uma vez culpar as autoridades, que notoriamente têm sido incompetentes neste quesito, devemos nos lembrar que cidadãos comuns também são responsáveis por tornar tais medidas eficientes. Devemos, assim, fazer uma mea culpa com relação à problemática do mosquito e nos tornarmos mais responsáveis para minimizar este problema. Afinal, quem sempre sofre é a população e esta deve cuidar de si mesma em todos os momentos.  A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.