25/05/2020 - 9:00 - Mestrados e Doutorados
Fonte: Natalie Malulei
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Quantas vezes você ouviu a história da descoberta do Brasil contada por um indígena? Ou o processo do fim da escravidão relatado por um negro? Alguma vez você comparou fontes paraguaias e brasileiras, para se informar sobre a guerra contra o Paraguai? Na historiografia tradicional pouco se vê representantes desses povos terem lugar de fala e a forma como esses fatos são narrados, muitas vezes, desvalorizam as comunidades e não as representam. Foi com a proposta de resgatar elementos históricos importantes e dar voz à essas minorias, também no meio científico e de produção do conhecimento, que foi criada na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) a “Lamparina”, um laboratório voltado para estudos decoloniais.
“A Lamparina é a confluência de várias iniciativas de trabalho que vêm acontecendo desde alguns anos. Nosso grupo tenta modificar a forma com que nós acessamos e utilizamos fontes para a nossa formação. Por exemplo, ao desenvolver um trabalho, ao invés de eu usar o discurso que nós brancos e antropólogos fazemos sobre os indígenas, eu ouço, cada vez mais, os intelectuais e as intelectuais indígenas. Esse é um tipo de ação que chamamos de desnaturalização de alguns comportamentos e de maneiras de acessar o mundo intelectual e a produção histórica. É o tipo de atitude que queremos promover”, esclareceu Dr. Josemar de Campos Maciel, professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento Local da UCDB.
Junto com Josemar, em 2019, outros dois docentes da Católica tiveram participação na criação do laboratório: Dr. José Francisco Sarmento Nogueira, que atua no Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas (Neppi), e a professora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia Dra. Anita Guazzelli Bernardes. Segundo José Francisco, a ideia do trabalho é promover também um resgate e evidenciar práticas desses povos que poderiam ter um papel representativo e auxiliar no contexto atual.
“Em relação à decolonialidade, destacamos a inspiração de autores da América Latina e África — continentes considerados a periferia do mundo, onde vozes foram silenciadas historicamente. Pretendemos chamar à atenção para alternativas epistemológicas sofisticadas e simples, que já habitavam estas terras, antes da invasão europeia com seus conceitos hegemônicos de poder, saber e fazer. Assim como a lamparina, estes conhecimentos e saberes, nunca desapareceram, só foram substituídos, em grande parte pelos saberes que a modernidade apresentou. São estratégias de pensamento, de produção de conhecimento, mas sobretudo, de formas de compartilhar o mundo que vivemos, portanto, são formas situadas e localizadas”, ressaltou José Francisco.
Por ser uma iniciativa multidisciplinar, atualmente, na UCDB, outros pesquisadores de diversas áreas do conhecimento também fazem parte da Lamparina, como os integrantes do Laboratório de Humanidades (LABUH), do Laboratório de Psicologia da Saúde, Políticas da Cognição e da Subjetividade (Lapisis) e do ImaginárioLab. De acordo com os criadores do grupo, foi o que motivou a aproximação de tantos cientistas em prol de uma única causa que deu origem ao nome do grupo.
“Percebemos que o nome lamparina supera definições semióticas de identificação simples; ela é mais que um índice de luz, uma produtora de cândida claridade. Para nós, ela se configura como o índice de sabedoria e conhecimento tradicional e ancestral, pois o uso dela, remonta à pré-história, e a eficiência que possui é incontestável até os dias de hoje. O nosso grupo pretende contribuir com diferentes estratégias que, atualmente, se voltam para a construção na academia de alternativas para dialogar com o pensamento eurocêntrico e hegemônico”, ressaltaram os docentes.
Uma destas estratégias adotadas pela Lamparina é a promoção de eventos e encontros com a proposta de possibilitar o diálogo sobre o assunto. Além disso, na Universidade, o grupo tem possibilitado a oferta de disciplinas que fogem do padrão tradicional. “São disciplinas trabalhadas coletivamente e abertas, por exemplo, o Neppi e os programas de Psicologia e Desenvolvimento Local têm ações integradas e propõem diversas disciplinas conjuntas como de pensamento afrodiaspórico, de pensamento decolonial e desenvolvimento local e ecofilosofia”, pontuou Josemar.
Cooperação nacional e internacional
Além de docentes da Católica, integram o grupo Lamparina pesquisadores de outras instituições de ensino superior do Brasil e também da América. Em âmbito nacional participam a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), a Universidade Federal de Alagoas (UFAL), a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No primeiro ano de atividades, foi criado, por meio do laboratório, um projeto institucional que envolve a UCDB, a UFRGS e duas universidades do exterior — a Universidade de Santiago do Chile e a Universidade Nacional Autônoma do México. A iniciativa foi contemplada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio do edital nº 05/2019, para participar do Programa de Cooperação Científica Estratégica com o Sul Global/COOPBRASS que tem a proposta de fomentar o intercâmbio científico e a mobilidade acadêmica entre universidades brasileiras e instituições de países em desenvolvimento com os quais o Brasil tenha acordo ou memorando de entendimento na área de Cooperação Educacional, Cultural ou de Ciência e Tecnologia.
Entrada será gratuita, com início às 19h30