Artigo - A neurociência anuncia: Quem encanta seus males espanta

01/02/2022 - 18:07 - Artigo

Fonte: Thiago Müller, professor do curso de Publicidade e Propaganda da UCDB e pesquisador em Neuromarketing

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Neste exato momento de leitura, alguém está navegando pelos mares das indecisões em escolher a cor da camiseta que combine com seu humor. Mal sabe o cidadão que sua opção pelo azul vai desencadear uma sucessão de desventuras. Eis então a punição pela escolha: todo lugar que decidir visitar, alguém usará da mesma paleta de cores. Trágico fim. O mundo estará pintado de azul, justamente neste dia. Para alguns, apenas a infelicidade em inaugurar o dia com o pé esquerdo.

Sejamos completamente empáticos, já passamos por isso. E nem adianta tentar trocar as lentes dos óculos quando nosso cérebro instaura a rebeldia da atenção seletiva sobre algo não tem escapatória. Sei bem sobre isso, vivo um romance proibido com a neurociência. Não bastasse enxergar em todos os lugares, ainda analiso sua vida perfeitinha com o marketing.

Dias atrás isso aconteceu durante uma daquelas sessões de filmes dominicais em casa (Mogli). Algo sem pretensões, mas muito constrangedor. Me senti invadido! Essa lembrança chegou sem pedir licença e parou em frente dos meus olhos. Pronto, não me deixou relaxar com a obra hollywoodiana.

Sem a intenção de spoiler aos cinéfilos, mas trata-se de uma cena até que peculiar. Uma serpente seduz o protagonista por meio da sua voz encantada. Uma magia pura. E, então, o grito dos neurônios em minha cabeça: Uau! Está aí o exemplo de uma das clássicas performances de vendas e que tem muitas respostas encontradas na neurociência.

Essa assimilação corresponde a área do neuromarketing – um ambiente que busca informações sobre a aplicação de dados da neurociência em estratégias comerciais. Aliás, diálogo que tem tornado o curso de Publicidade e Propaganda da UCDB destaque em produções de conhecimento local e nacional. Mas voltando à cena, o que me chamou atenção é sobre poder comparar a ação do personagem ao movimento organizado por bons vendedores.

Aqueles que são capazes de bater metas de vendas descobriram que quanto mais simpáticos forem com seus consumidores em potencial, maior a possibilidade de conversão em clientes. Parte dessa simpatia estava sendo exemplificada ali em um filme infantil por meio da prosódia.

Essa técnica nos orienta sobre a correta articulação dos sons e entonação das palavras e frases produzidas pelo enunciador. Tal controle sobre a oralidade torna-se música aos nossos ouvidos. Imagine duas pessoas se conhecendo em um desses cafés gourmets da cidade. A chance de um segundo encontro acontecer também está validada sobre a melodia das palavras ouvidas — claro, existe um modelo complexo de outros detalhes envolvidos, mas perceba que com a ajuda a projeção vocal nós conseguimos ter indícios sobre pessoas inseguras ou arrogantes. Surge então o modelo de sedução.

Em nosso cérebro, só festa de estímulos. Áreas responsáveis pela fuga ou enfrentamento podem ser ativadas (amígdalas cerebrais), ou então, outros departamentos que representam a empatia pela mensagem do comunicador. Tudo isso, por que o humano sente antes de raciocinar.

Imagine então seguir na mesma vibração que o receptor da mensagem — seja de venda ou qualquer outro acordo social —, acessaríamos com facilidade um padrão de comportamento para ativação dos neurônios espelho, pois haveria identificação entre os pares. Bum! Desenvolveríamos uma comunicação mais assertiva.

Assumo meu lugar ao sol no mundo dos cringes, mas se soubesse dessa informação durante minha valiosa experiência como atendente em popular vídeo locadora – sim, existiu vida cinematográfica antes dos streamings –, quem sabe teria contribuído para mais cotas de aluguéis dos clientes ou conseguido aquele aumento de salário desejado, mas convertido secretamente a sorvetes consumidos enquanto o chefe não estava na loja. Vale pensar neste momento se seus argumentos têm sido bem validados pelo seu discurso. Quem tem boca também conquista Roma.