Especialistas destacam os critérios de escolha dos eleitores
23/06/2016 - 08:57 -
Política
Este é um ano eleitoral, e como todo período em que entram em jogo, nomes, partidos e divergências de opinião, o eleitor mostra-se em sua grande maioria, paralelo ou alienado ao processo político. Analisar, avaliar e selecionar os melhores nomes que possam representar o povo nos poderes regionais e nacionais ainda é uma dificuldade para o cidadão brasileiro.
Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria, conjuntamente ao Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), em 2014, mostrou que 26% dos pesquisados não se preocupavam ou se interessavam pelas eleições daquele ano, que tinham âmbito nacional. Segundo balanço da pesquisa, 16% dos entrevistados disseram estar “muito interessados” nas eleições de 2014, 29% disseram ter “interesse médio” e 29% afirmaram ter “pouco interesse”.
O professor especialista em sociologia e filosofia, Fábio Luiz Pereira e também docente de geopolítica explica que por uma questão cultural os brasileiros têm grande dificuldade de participar da política. “Somos politizados de fato de dois em dois anos, quando acontecem as eleições”. Segundo o professor, na formalidade o indivíduo é considerado um ‘cidadão’ quando porta um título de eleitor, o que não faz, no entanto esse, sua devida participação política na sociedade. “Para o cidadão se envolver na política, ele precisa entender como ela funciona – o que para nós é uma grande dificuldade. Fiscalizar o seu candidato eleito é determinante para a participação política do cidadão. Não é participar de política apenas manifestar-se por uma questão financeira nacional que levou muitas pessoas às ruas”, afirma o professor.
No entanto os eleitores não podem realizar a fiscalização dos candidatos que elegeram, pois não se lembram de quem são eles. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha em 2010 – ano eleitoral – mostrou que um terço dos eleitores que participaram da pesquisa, não se lembravam dos nomes que tinham escolhido na eleição anterior à pesquisa. Em mesmo período, uma pesquisa feita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apontou que os
deputados estaduais e distritais não foram lembrados pela maioria dos entrevistados na ocasião. Ambas as pesquisas foram realizadas cerca de 20 dias após as eleições daquele ano.
Doutor em Comunicação e Política pela Universidade de São Paulo (USP), o jornalista Eron Brum, destaca os elementos que de fato podem influenciar o posicionamento político do cidadão, na hora de votar em uma eleição, o que foi tema inclusive de sua tese de doutorado em Comunicação e Política. “Os mais significativos [fatores que influenciam] são a família e os grupos de referência (trabalho, escola, lazer.). Em seguida aparecem os meios de comunicação de massa e os programas eleitorais no rádio e na televisão”, explica Brum. No ano em que o doutor defendu sua tese a Internet ainda era só promessa e, hoje, segundo ele, as mídias sociais podem entrar como outro fator importante de influência. “Resumindo, o brasileiro precisa somente começar a exercer a cidadania.”, diz.
No contexto político brasileiro, ainda há uma grande controvérsia para aquilo que historicamente justifique o desinteresse brasileiro pela participação política. Associado aos casos de corrupção, Eron Brum comenta que são muitos os fatores da falta de interesse. “Educação formal deficiente, distanciamento dos nossos representantes (políticos que elegemos), orgulho de ser apolítico, não se interessar pelo currículo do candidato em que vota”, enumera Brum. Outra justificativa comum é a de não escolher um partido para votar. “A frase ‘eu voto em candidato, independente de partido’, é clássica na mente e nos corações do eleitor brasileiro”, analisa o professor. O eleitor não exige nada de seu candidato e depois ainda reclama da política e dos políticos. Essa ausência crônica no processo facilitaria e incentivaria a corrupção política.