População de Porto Murtinho alimenta as lendas sobre o "Castelinho"
23/06/2016 - 08:18 -
Geral
Toda princesa, como vemos nos contos clássicos, vive num Castelo. E por trás de todos grandes contos clássicos, existe “Uma Linda História de Amor”. Entretanto essa parece ser uma realidade muito distante da nossa, que vivemos no interior ou até mesmo no Estado de Mato Grosso do Sul. Certo?! Errado.
Em Porto Murtinho, município que faz Fronteira com o Paraguai, localizado a 480 quilômetros da Capital, existe um Castelo. A construção iniciada entre 1910 e 1914 é uma das primeiras construções do local. E pode ser considerada um dos monumentos mais antigos do Estado.
O Castelinho como é chamado pelos moradores locais possui uma história de amor, que segundo o Professor e Historiador Braz Leon, não teve um final feliz. Há mais de cem anos Porto Murtinho recebia seus primeiros moradores, muitos deles estrangeiros. Povoaram o local e abriram um porto, que dá nome a cidade. As portas para a exportação e importação, o comércio, dão início ao primeiro vilarejo. E este foi o caso de Dom Thomaz Herrera, comerciante Uruguaio, que escolheu a recém inexplorada Porto Murtinho para construir um futuro com sua amada Virgínia.
Thomaz Herrera conheceu a belga Virgínia, durante o tempo que viveu na Europa, estudando em uma Universidade Francesa. Em pouco tempo ele se apaixonou pela moça, que era sobrinha de um Imperador Austríaco. Todavia para se casar com Virgínia, o rapaz deveria ter muitas posses já que ela vinha de uma família nobre.
Frustrado, veio de férias para o Brasil e quando retornou à Europa decidiu investir no seu amor, prometendo construir um Castelo para sua amada, às margens do Rio Paraguai.
Neste período a Europa entrava em conflito, com a surgimento da Primeira Guerra Mundial (1911 à 1914). “Esses e outros fatores levaram a família da belga a consentir no casamento com Dom Thomaz Herrera e a mudança da filha para o Brasil”, relata o professor e historiador Braz Leon.
Virgínia era o centro das atenções na pequena vila que acabava de se mudar. Sempre com lindos trajes e vestidos importados, fazia grandes festas para suas amigas que a vinham visitar, conta a pedagoga Marcelina Gonzales, que atualmente cuida do Castelinho com seu esposo Hermínio Gonzales.
Mas com o passar dos anos, Dom Thomaz começou a ter dificuldades financeiras e tornou-se “mascateiro” (vendia as mercadorias em carro de boi) e ficava fora durante meses para poder comercializar e sair da crise.
Longe da família, Virgínia ficou muito solitária e para ocupar o tempo dava aulas de piano e idiomas para os filhos de fazendeiros. Segundo relato dos antigos moradores, falido, Thomaz Herrera teria entrado em depressão e começou a ter brigas com sua esposa, que resolveu voltar para a Europa.
Porém, segundo pesquisa e investigação do Historiador Braz Leon que também é morador da cidade de Porto Murtinho, a história teve outro final.
Com a chegada da Primeira Guerra Mundial, o comércio de exportação de pelos de animais, carne, erva mate e tanino, foi interrompida. Atividade que Dom Thomaz praticava na região, levando à falência. Virgínia teria se apaixonado por um de seus alunos e Thomaz havia descoberto que sua amada estava tendo um caso. Falido, traído e enfurecido, Thomaz num ataque de loucura teria a levado para torre do Castelo e tirado a vida da moça, enterrando seu corpo no porão, relata o historiador.
Em seguida Dom Thomaz para honrar seus compromissos decide vender o Castelo para Celso Teixeira Cordoniz, que adquiriu o imóvel ainda inacabado, nos conta Marcelina Gonzales.
Diz a lenda, segundo alguns moradores, que o Castelinho é assombrado e que os mais antigos contam que a alma da moça vive ali, descendo as escadas da torre com um vestido branco, procurando a saída do Castelinho. Outros dizem que ela foi escondida no porão do Castelo que dá acesso subterrâneo ao rio e sua alma vaga por ali.
Ainda dizem que essa passagem servia como embarque de escravos na região e que nos fundos do prédio existia uma senzala. Lendas urbanas que despertam a curiosidade dos visitantes e também intrigam os contadores das boas histórias.
Andando pelo castelo, desde a entrada principal pode-se observar a estrutura arquitetônica medieval, num estilo eclético. Passando pelos corredores até a escadaria percebe-se a cultura européia e a história viva em cada canto do local.
A arquiteta e professora de História da Arquitetura da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Margareth Escobar, que foi coordenadora de um trabalho feito sobre a Arquitetura dos Monumentos Históricos de Porto Murtinho e posteriormente escreveu tese para conclusão de seu livro, revela que o Castelinho não seria um castelo de fato. Os últimos castelos foram construídos por volta de XIII na Europa, segundo a pesquisadora não existem Castelos no Brasil, mas sim construções que lembram a estrutura dos Castelos da Idade Média, como o encontrado em Porto Murtinho.
O tempo passou, mas os detalhes resistiram. Até mesmo o acervo que lá se encontra de documentos, móveis, o piano de Virgínia e pertences da atual família dona do Castelinho sobreviveram às duas grandes enchentes de 1979 e 1980, inundações que deixaram marcas nas paredes.
Existia muita prataria e porcelanas que foram se perdendo durante as cheias. Os móveis e todo o material da construção foram trazidos da Europa, inclusive água encanada e energia elétrica que ainda não existia na região, diz Margareth Escobar.
Depois da venda, parte do Castelinho virou loja de tecidos, e também funcionava um escritório de contabilidade e depósito. Atualmente o prédio está abandonado esperando para ser tombado e se tornar efetivamente patrimônio histórico e cultural do município de Porto Murtinho.