ENTREVISTA: Professora da UCDB esclarece dúvidas sobre a prevenção da febre amarela

29/01/2018 - 9:00 - UCDB

Fonte: Natalie Malulei

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De julho do ano passado ao dia 14 deste mês, já são 35 casos de infecção por febre amarela confirmados no Brasil. Desse total, 20 pessoas morreram e, além disso, há outros 145 pacientes sob investigação. Os dados foram divulgados pelo último boletim epidemiológico emitido pelo Ministério da Saúde, no dia 16 de janeiro, e expõem um avanço preocupante do vírus já que no boletim anterior, divulgado no dia 9 do mesmo mês, eram apenas 11 casos confirmados da doença.

Apesar de nenhuma dessas notificações ser em Mato Grosso do Sul, e o último registro da doença no Estado ter sido em 2015, a região é considerada área de risco. Nessa entrevista, a professora do curso de Medicina Veterinária da UCDB, Dra. Magyda Arabia Araji Dahroug, explica o porquê e passa orientações a respeito da prevenção da doença.

Site UCDB: Entre os 19 estados brasileiros considerados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como regiões de risco em relação à febre amarela, está Mato Grosso do Sul. Por quê? Se na história do Estado só foram registrados dois casos da doença, um em 2010 e outro em 2015?

Magyda: Apesar de outros estados, como São Paulo e Minas Gerais, estarem em uma situação mais alarmante com 20 e 11 casos da doença confirmados respectivamente,  Mato Grosso do Sul é considerado área de risco por conta da biodiversidade que temos,  pois a febre amarela também é uma doença de ciclo silvestre, ou seja, acontece em meio aos animais em regiões como Pantanal e Cerrado, por exemplo. Vale lembrar que as últimas notificações de febre amarela urbana foram relatadas na década de 40. Além disso, as condições climáticas aqui do Estado são favoráveis para a manutenção do mosquito transmissor já que, na maior parte do ano, o clima é quente e úmido.

Site UCDB: Como a febre amarela é transmitida? O mosquito Aedes aegypti, causador do zika vírus, da dengue e da febre chikungunya é considerado um vetor? Além dele existem outros?

Magyda:  O principal vetor da doença na área urbana é o Aedes aegypti. Várias pesquisas foram feitas em mosquitos para ver se são portadores do vírus e, no caso do Aedes, a partir do momento em que ele pica um animal ou uma pessoa infectada, o vírus da febre amarela permanece no vetor que pode transmiti-lo por toda vida. Como cada mosquito vive, em média 30 dias, este é um inseto com um potencial muito grande em manter o agente infeccioso em circulação. Além dele, existem outros vetores, que são da área silvestre: mosquitos do gênero Haemagogus e Sabethes, que picam os primatas e possuem outro ciclo independente. No entanto, essas espécies podem infectar acidentalmente humanos, sendo estas infecções responsáveis pelas notificações das últimas décadas.

Site UCDB: Qual relação das mortes de macacos registradas por febre amarela com a probabilidade de um humano contrair a doença?

Magyda:  Não há comprovação que exista relação entre os macacos infectados com humanos infectados, até mesmo porque o ciclo silvestre sempre existiu. É importante ressaltar que os primatas são considerados sentinelas, ou seja, ao observamos casos em macacos, principalmente em saguis e bugios redobramos os cuidados com a saúde pública, pois a febre amarela apresenta caráter sazonal (principalmente em períodos chuvosos). Esses animais são muito susceptíveis às manifestações clínicas, levando o animal ao óbito em pouco tempo, antes mesmo de se tornar reservatório em potencial do vírus, sendo assim não há razão alguma em responsabilizá-los pelas ocorrências em humanos.

Site UCDB: A vacina é a melhor forma de prevenção da febre amarela? Quantas doses são necessárias para os adultos e como funciona no caso das crianças?

Magyda: A vacina é o meio mais eficaz de proteção individual e existe um protocolo do Ministério da Saúde para a aplicação. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as crianças devem tomar a primeira dose aos 9 meses e o reforço aos 4 anos, se isso for cumprido na infância a proteção contra a doença se mantém pelo resto da vida. A partir de 5 anos, basta uma única vacinação para que a pessoa se mantenha imune também por toda a vida (regra válida para os já vacinados e aqueles que receberão a dose da vacina integral – a não fracionada), não sendo necessário o reforço após 10 anos. Em caso de perda da carteirinha de vacinação ou dúvidas se já foi vacinado, o recomendado é que vá até o posto de saúde e confira o histórico da vacinação, pois as informações podem estar registradas no sistema. Vale lembrar que a vacina é contra indicada para mulheres grávidas e puérperas (tiveram bebês em até 40 dias) e assim como pessoas acima de 60 anos devem procurar orientação médica e cabe ao profissional avaliar a relação benefício/risco da vacinação.

Site UCDB: Ainda em relação a vacinação, o fracionamento proposto pelo governo federal é, de fato, eficaz?

Magyda: Estudos científicos mostram que a dose fracionada (que corresponde a um quinto da dose padrão),  é eficaz, no entanto é necessário um reforço após nove anos. Essa medida foi tomada para que mais pessoas sejam vacinadas em um menor período de tempo. A OMS já utilizou essa estratégia com sucesso na República democrática do Congo, quando foram aplicadas as vacinas produzidas em Biomanguinhos pela Fiocruz. Alguns públicos não são indicados para receber a dose fracionada, portanto deverão participar da campanha recebendo a dose padrão: crianças de 9 meses a menores de dois anos; pessoas com condições clínicas especiais (portadores do HIV/Aids, ao final de tratamento quimioterápico e pacientes com doenças hematológicas);  gestantes e viajante internacional (devem apresentar comprovante de viagem no ato da vacinação). A vacinação fracionada é recomendada para pessoas a partir dos dois anos e está sendo aplicada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

Site UCDB: Diante de todos os casos da doença registrados no país, do número de mortes, como a senhora avalia esse cenário? É motivo para pânico?

Magyda:  É importante ressaltar que a febre amarela tem cura. Apesar de não combatermos o vírus, podemos amenizar os sintomas da doença até que o ciclo se encerre, e a pessoa alcance a cura. Porém, em alguns casos, como acontece com a dengue, a doença é mais agressiva. Diante desse cenário, eu concluo que não há motivo para pânico, e sim para prevenção. É preciso buscar informações e principalmente imunização, pois sabemos que a vacina é eficaz.